Pesquisa propõe análise qualitativa para avaliar proteção física de instalações radiativas

Uma pesquisa do Instituto de Radioproteção e Dosimetria/Comissão Nacional de Energia Nuclear (IRD/CNEN), conduzida pelo engenheiro mecânico Alexandre Roza de Lima, propõe um novo modelo de avaliação da eficácia do Sistema de Proteção Física (SisPF) de fontes radioativas e instalações radiativas associadas. Denominado MAESP – Modelo de Avaliação da Eficácia do Sistema de Proteção Física, o sistema utiliza análise qualitativa para avaliação da eficácia do sistema de proteção física de instalações radiativas.

“Os modelos existentes no mercado são muito complexos e a aplicação é direcionada para proteção física de materiais nucleares. A abordagem de segurança para fontes radioativas utilizadas em hospitais, clínicas e indústrias é distinta, não dá para adotar a mesma proteção física de uma usina nuclear em um hospital, por exemplo. E essa pesquisa acaba atendendo a uma demanda mundial, porque não existiam ferramentas para se avaliar um sistema de proteção física de instalações radiativas”, explica Lima.

Um Sistema de Proteção Física é baseado em cinco funções básicas de proteção física (dissuasão, detecção, retardo, resposta e gestão de segurança física), todas necessárias para proteger uma instalação radiativa contra atos maléficos. Aliás, isso é justamente o que difere a proteção física da proteção radiológica, já que, em geral, na proteção física a causa do problema é intencional, e na proteção radiológica é algo inadvertido. Nos dois casos, portanto, é preciso adotar medidas para evitar ocorrências e mitigar as consequências, caso um evento ocorra.

Os atos intencionais vão desde acessos não autorizados ao material ou à instalação radiativa, como furtos e roubos para venda no mercado negro, até sabotagem na instalação e no transporte. Todos gerariam movimentação ilegal do material e poderiam causar grandes danos à sociedade e ao meio ambiente.

“O roubo de um material radioativo pode causar vários transtornos, não só porque a empresa vai perder esse material, mas também porque, como consequência, ele pode ser levado para fora da instituição e expor outras pessoas. Além dos prejuízos à saúde, uma ocorrência como essa pode gerar grande impacto na reputação da empresa”, ressalta o pesquisador.

O MAESP foi desenvolvido em dois módulos distintos permitindo avaliar, de forma independente, as estruturas física e administrativa do SisPF, através de dois processos estruturados elaborados para a condução da avaliação de eficácia do SisPF, que inicia pela definição do nível de proteção física (NPF) da instalação, finalizando com uma análise qualitativa de robustez em ambos os módulos.

O objetivo é identificar as vulnerabilidades para poder fortalecer o SisPF, otimizar recursos com os princípios de segurança física, desenvolver um projeto de aplicação adequado ao uso e promover uma cultura de Segurança Física. “Fortalecer essa cultura é fundamental, porque hoje, o brasileiro não acredita que esses atos maléficos possam ocorrer, mas é justamente nessa brecha que o fato acontece. E precisamos evitar”, comenta.

Legislação

A proteção física das fontes radioativas é um tema muito recente no mundo. No Brasil, o primeiro regulamento sobre o assunto foi publicado em 2019. Tecnologista Pleno em Segurança Física Nuclear da CNEN, certificado pela World Institute for Nuclear Security (WINS) na área de Gerenciamento de Segurança Física de Fontes Radioativas, Lima trabalhou ativamente na elaboração da Norma CNEN-NN-2.06/2019 “Proteção Física de Fontes Radioativas e Instalações Radiativas Associadas”, que dispõe sobre os princípios e requisitos de proteção física aplicáveis a fontes radioativas e instalações. “Nosso grupo de trabalho iniciou o movimento com vistas à elaboração de uma Norma em 2016, ou seja, foram três anos de estudos, pesquisas e trabalho até que ela fosse publicada”, relata.

Atualmente, o grupo está debruçado sobre a elaboração da Norma CNEN NN 2.05, voltada para segurança física no transporte de fontes radioativas. A preocupação é justamente evitar episódios como o acidente radioativo de Goiânia, que ocorreu na década de 1980, ou o roubo do carro que transportava material radioativo no Rio de Janeiro, em 2012. A nova Norma deve ser publicada até o início de 2023.

Análise do novo modelo de avaliação

De acordo com os resultados da pesquisa, o MAESP mostrou-se capaz de avaliar a eficácia do SisPF de forma simples e célere, permitindo que o usuário de fontes radioativas identifique as fragilidades exploráveis na instalação por componente, por camada de segurança e por função básica de proteção física.
Ainda segundo o estudo, o MAESP possibilita que o usuário priorize a implementação de melhorias em pontos mais críticos de vulnerabilidade do SisPF, de forma a otimizar e evitar gastos demasiados em seu aperfeiçoamento.

Pesquisas em proteção radiológica direcionam decisões

As pesquisas em proteção radiológica e em segurança física de instalações nucleares e radiativas são fundamentais, pois ajudam as instituições que atuam com materiais radioativos a direcionarem a tomada de decisão.

Professor da Pós-graduação em Proteção Radiológica com Ênfase em Supervisão Médica e Industrial, Alexandre Roza de Lima tem mais de 20 anos de experiência na área de segurança e proteção radiológica e sete anos na área de fiscalização e avaliação de segurança física de instalações nucleares e radiativas.

Membro da Comissão de Segurança e Radioproteção Industrial da ABENDI e do Grupo de Trabalho em Segurança Física de Fontes Radioativas da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), aprofundou-se no tema, inicialmente, durante o Mestrado em Biofísica das Radiações.

“Nesta pesquisa fizemos avaliação de dosimetria no cristalino dos operadores de radiografia industrial, isso porque, em 2011 o cristalino passou a ser uma preocupação no mundo radiológico. Nossos olhos são muito sensíveis à radiação ionizante, então, a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) reduziu os limites de dose para o cristalino; e no Mestrado, avaliei a necessidade de se utilizar um dosímetro específico para cristalino”, explica. “Nesse sentido, a Sapra Landauer, que tem know how no assunto, me ajudou a conhecer essa tecnologia”, ressalta.

Seu envolvimento com o tema aumentou desde que passou a integrar a equipe da CNEN, em 2014, e a realizar as pesquisas para o seu Doutorado. Para ele, ainda há muito a ser feito tanto em proteção radiológica, quanto na área de proteção física de instalações radiativas como, por exemplo, o desenvolvimento de uma ferramenta computacional com o MAESP, para reduzir o tempo de resposta e aumentar a qualidade das avaliações de eficácia dos SisPF permitindo ao avaliador testar diversas combinações de elementos e medidas de proteção física de forma célere e eficiente.

Outra possibilidade é a realização de estudos experimentais fazendo uso do MAESP, com o objetivo de ampliar o seu campo de aplicação em diferentes tipos de instalações radiativas médicas, industriais e de pesquisa permitindo aperfeiçoar e customizar o novo modelo de avaliação para cada caso em específico. Em outras palavras, as pesquisas científicas não podem parar.