Programa de Qualidade da Mamografia avalia desempenho dos serviços de imagem

Criado pelo INCA, PNQM é baseado em critérios técnicos para garantir resultados precisos
Precisão é importante já que 90% dos exames são feitos quando a mulher não tem sintomas

O Programa Nacional de Qualidade em Mamografia (PNQM), criado pelo Ministério da Saúde, atribui ao Instituto Nacional do Câncer (INCA), a avaliação da qualidade dos exames, visa avaliar o desempenho dos serviços de imagens oferecidos à população. O objetivo é garantir que os resultados sejam precisos e confiáveis, já que cerca de 90% dos exames são feitos quando a mulher não tem sintomas.

Segundo a Física especializada em Radiodiagnósticos Sonia Maria da Silva, Tecnologista responsável pelo gerenciamento dos processos de qualidade de mamografia do INCA, o programa é baseado em critérios técnicos referentes à qualidade da estrutura do processo, dos resultados e da dose de radiação, além da imagem clínica e do laudo.

“O PNQM é composto por ações coordenadas que têm como referência as normas vigentes, visando garantir a qualidade final da mamografia. Além disso, o programa tem a característica de ser contínuo. As avaliações são periódicas para identificar necessidades de correção e aperfeiçoamento do processo”, afirma a tecnologista que também é coordenadora do curso “Atualização em Mamografia para Técnicos  e Tecnólogos em Radiologia” (nível Nacional) e de produção de material pedagógico (Brasil e América Latina) – INCA/MS.

Uma mamografia de qualidade não se resume apenas em ter uma ótima imagem, a preocupação com a segurança em relação à radiação, que deve ser usada de forma controlada, deve ser levada em conta no momento da realização do exame. “No programa avaliamos o equilíbrio entre a qualidade da imagem e a dose de radiação empregada nos exames, além disso avaliamos a atuação dos profissionais com relação ao posicionamento dessa mama e a interpretação das imagens geradas”, comenta a Tecnologista.

A precisão no resultado do exame se faz necessária já que a mamografia ajuda no rastreamento do câncer, como explica Sonia. “Cerca de 90% dos exames são realizados em mulheres que não têm sintomas da doença, visando identificar sinais radiológicos sugestivos da doença para encaminhamento da confirmação diagnóstica”. A identificação de alterações favorece um diagnóstico precoce, possibilitando um tratamento mais rápido, assertivo e e menos mutilante.

Processo de avaliação

No Programa de Qualidade em Mamografia o processo de avaliação é realizado em duas fases: na primeira é avaliado o desempenho do mamógrafo, onde os técnicos examinam a dose de radiação usada e a qualidade da imagem do simulador de mama.

“A avaliação é feita por via postal. Enviamos um kit contendo um bloco de acrílico, um dosímetro e as instruções de como esse material deve ser exposto no simulador radiográfico de mama. Quando recebemos esse material de volta, fazemos a leitura desse dosímetro em nosso laboratório para conhecermos a dose de radiação empregada naquela exposição e a qualidade da imagem do simulador de mama em conjunto com a exposição”.

Sonia ainda explica que a segunda fase consiste em analisar as imagens clínicas geradas e o laudo. “Solicitamos que o laboratório nos encaminhe uma amostra de cinco exames acompanhada dos laudos. Nesse momento fazemos a observação dos profissionais com relação ao posicionamento da mama, critérios anatômicos, como por exemplo se é possível identificar os vasos , diferenciar tecidos e critérios físicos como presença de ruídos, entre outros  e se tem algum artefato e, por fim, a análise do laudo feito por esses profissionais. É importante ressaltar que esses exames são avaliados por uma comissão de especialistas do INCA e do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR)”.

Em 30% das avaliações são encontradas algum tipo de não conformidade, e a tecnologista conta que elas são as mais variadas. “Na primeira fase as mais comuns são com relação à dose de radiação empregada e a qualidade da imagem do simulador. Nesses casos, quando detectada alguma não conformidade, orientamos o laboratório a fazer o ajuste no equipamento. Já na segunda fase, logo no início do programa, encontramos muito problema na qualidade das imagens imagens relativas a primeira fase de avaliação. Com o avanço do programa, as ações sendo realizadas, percebemos que esse problema foi sendo superado e hoje é menos frequente. Outras não conformidades foram aparecendo e hoje, cerca de 20% são em relação ao posicionamento da mama e à confecção do laudo”.

Quando um serviço apresenta uma não conformidade, os especialistas fazem recomendações de ajustes para que o exame tenha a qualidade necessária. “A natureza do nosso programa é educativa e não punir, sendo essa uma responsabilidade fiscal. Por isso, quando o serviço faz o que foi recomendado, uma nova amostra é colhida e enviada para ser reavaliada, e isso pode ser feito diversas vezes, até que o serviço esteja de acordo com as normas”, explica Sonia.

Parcerias fundamentais
O programa conta com duas importantes parcerias: o Colégio Brasileiro de Radiologia e as Vigilâncias Sanitárias. “Cabe às vigilâncias cobrar dos serviços a participação no programa e acompanhar se as melhorias sugeridas estão sendo aplicadas”.

Existem hoje no Brasil 5.500 serviços de mamografia. O PQM já avaliou cerca de 1.389, dentre os quais, 942 estão finalizados e aprovados, 225 estão em avaliação na primeira fase e 224 estão em fase de adequação para passar por uma nova avaliação. “Ainda temos um longo caminho a percorrer, acredito que uma meta satisfatória seria atendermos no programa 70% dos serviços. Dadas as diferenças regionais, sócio-culturais do país e também da independência de atuação das equipes de vigilância, observamos que nos municípios onde a vigilância sanitária é mais atuante, a adesão do serviço é maior e, por consequência, a qualidade do exame realizado é melhor”.

A participação no programa é feita através da parceria com as vigilâncias sanitárias, mas o próprio serviço pode acessar a página do INCA (www.inca.gov.br) e participar voluntariamente do PQM.

Cursos de atualização

Para ajudar os serviços no momento das correções de não conformidade, o PQM estruturou cursos de atualização para técnicos e tecnólogos, que são oferecidos gratuitamente de forma on-line, três vezes ao ano e para todos os profissionais do Brasil. Sonia conta que alguns serviços preferem contratar outros cursos de aperfeiçoamento. “Isso acontece porque no caso do nosso curso passamos toda a parte teórica, mas por ser à distância fica uma lacuna com relação à parte prática. Nos casos em que a não conformidade é com relação ao laudo e interpretação diagnóstica, o CBR disponibiliza treinamento através do módulo Bi-Rads, também gratuito e à distância”.

Além dos cursos, o PQM oferece palestras em congressos e elabora materiais que são distribuídos nos serviços. “Com essas ações temos percebido uma importante melhora na qualidade dos exames realizados, o que minimiza as chances de erro de diagnóstico. Identificar os casos suspeitos de câncer de mama em tempo oportuno faz com que o tratamento seja menos mutilante, com maior chance de sobrevivência. Além do impacto epidemiológico, ressaltamos também o impacto social e econômico, porque quanto mais simples o tratamento, menor é o custo para o estado”, finaliza Sonia.