PHILLIP PATRIK DMITRUK: “APLICADA NA ÍNTEGRA, PROTEÇÃO RADIOLÓGICA SIGNIFICA AMOR E DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO”

Blog da Sapra publica entrevista exclusiva com consultor, professor e físico da Santa Casa de São Paulo sobre os desafios e avanços na área de proteção radiológica no Brasil. Ele explica, a seguir, a importância e os processos que envolvem o trabalho de profissionais de física médica na área hospitalar e comenta o que tem sido feito por entidades especializadas para melhorar os padrões de gestão no setor. Destaca, também, a qualidade dos serviços prestados pela Sapra Landauer em dosimetria de radiações, incluindo o uso de sistemas informatizados de atendimento ao cliente.

Raio-X do entrevistado: Físico da Santa Casa de São Paulo, graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo (PUC/SP), no ramo científico de Física Médica, e pós-graduado em Física das Radiações e Radioterapia pelo Instituto de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(INRAD/FMUSP). É docente colaborador em Física das Radiações no Curso de Pós-Graduação em Radiologia Médica da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. Também colabora com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nas comissões de estudo da Associação Brasileira das Indústrias Médico-odontológicas (ABIMO). É docente da Escola de Enfermagem da Santa Casa, da Faculdade de Medicina da Santa Casa, tendo lecionado várias disciplinas nas áreas da Física das Radiações, Proteção contra Radiações Ionizantes, Dosimetria clínica e Controle de Qualidade. É mestre e doutor em Engenharia no ramo científico de Engenharia Nuclear, pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). Também é pós-graduado em Administração de Empresas, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua como empreendedor e empresário em diversas áreas e ramos de negócios.

Blog da Sapra: Qual a importância da proteção radiológica na gestão hospitalar?

Phillip Patrik Dmitruk: A gestão hospitalar é bastante complexa e envolve uma série de segmentos da administração. Quando utilizamos os conceitos de proteção radiológica isso significa que estamos envolvendo pessoas e a segurança das operações que envolvem o uso de radiação ionizante, a qualidade dos serviços prestados e a responsabilidade social e ambiental. Inicialmente, ao entrarmos num hospital ou instituição de saúde, primariamente pensamos em saúde, seja na sua manutenção ou na sua recuperação. Muitas pessoas estão envolvidas e comprometidas nesse intuito e desejamos sempre o melhor e, primordialmente, desejamos estar saudáveis e fortalecidos. Cada paciente é uma missão de Deus. O atendimento em saúde não é óbvio, tudo é novidade e depende de muita observação, pesquisa e interação com o próximo. Os profissionais de saúde são seres humanos e, como tal, vivenciam sonhos e desejos dos mais variados possíveis. Há um universo de possibilidades.

Em quais aspectos desse trabalho, exatamente, se aplica a proteção radiológica? 

A proteção radiológica está presente em tudo. Quando aplicada na íntegra e com a máxima dedicação e responsabilidade, ela significa amor e dedicação ao próximo, seja ele paciente ou trabalhador. Muito mais que uma série de medidas ou conceitos de segurança e aplicação de blindagens, a proteção radiológica está imbuída do desejo de manter segura a pessoa humana, de obter o melhor resultado de segurança, o melhor resultado diagnóstico, a cura…

A proteção radiológica está presente em tudo. Quando aplicada na íntegra e com a máxima dedicação e responsabilidade, ela significa amor e dedicação ao próximo, seja ele paciente ou trabalhador.

 

Como essa atenção é exercida no dia-a-dia da Santa Casa de São Paulo?

A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, ao longo de algumas décadas, abraçou a proteção radiológica e a física médica, amadurecendo, e, de forma envolvente, organizou toda sua estrutura de diagnóstico por imagem segundo as necessidades de proteção radiológica e controle de qualidade da imagem. Muito é pesquisado, adaptado, produzido e incorporado às rotinas de realização de exames e acolhimento de seus pacientes e trabalhadores nas áreas que envolvem o uso de radiação ionizante e também radiação não ionizante. Há na instituição um elo muito forte entre a gestão e a proteção radiológica em todas as suas atividades. Notoriamente, a aplicação de um conceito pleno de proteção radiológica e física médica envolve muitos custos e esforços financeiros de toda natureza. Mesmo em momentos muito delicados relacionados à saúde financeira da instituição, não houve um minuto em que a proteção radiológica e a física médica fossem prejudicadas. Todos os equipamentos e ambientes foram sempre controlados e organizados para proteção de pacientes e trabalhadores. Há um grande e precioso esforço de todos, incluído nossos fornecedores de produtos e serviços no ramo de física médica e proteção radiológica.

Como é a atuação de um profissional de física médica no processo hospitalar?

O profissional de Física Médica deve estar muito atento a todas as condições de segurança no uso de equipamentos de proteção radiológica, no uso correto e adequado dos equipamentos emissores de radiação ionizante, das fontes emissoras de radiação ionizante e também às rotinas e aos protocolos de exames, de forma a manter a dose radioativa dentro dos padrões de segurança e a qualidade de resultados, imagens e tratamentos. No hospital, ele deve ser um profissional humano, observador e estudioso, deve ser apto a aceitar desafios e pronto a prestar assistência e esclarecimentos sobre a rotina segura no uso de radiação ionizante. Um profissional envolvido e fundamentalmente acessível. Esta qualidade o torna diferenciado, pois nossa ciência não é simples ou meramente matemática e nossa aptidão deve ir além disso, deve alcançar corações e mentes, e para tanto empatia e simpatia são essenciais. São muitas as dificuldades diárias e os desafios para manter, junto a nossos colaboradores, um uníssono de ações focadas na assistência e na segurança de todos. Esse é um exercício profissional muito prazeroso, posto que nossa missão é única em termos de eficiência na atenção em saúde pública, com todas as nuances possíveis.

No hospital, o físico deve ser um profissional humano, observador e estudioso, apto a aceitar desafios e pronto a prestar assistência e esclarecimentos sobre a rotina segura no uso de radiação ionizante.

 

Qual é a situação do Brasil em termos de estudos e pesquisas sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) por profissionais da área médica em comparação com outros países?

A pesquisa nessa área é muito mais voltada ao uso e eficiência dos EPI, muito focada em controle de qualidade e segurança do trabalhador. A matéria prima utilizada na fabricação dos EPI plumbíferos ou blindagens é basicamente importada, principalmente os óxidos de chumbo com a pureza necessária para uma proteção radiológica eficiente. A produção dos EPI segue norma internacional e poucos profissionais dão a devida atenção ao processo envolvido. Todos os produtos devem seguir o padrão normativo conforme descrito na ABNT-NBR-IEC-61331-3:2004 e a eficiência apresentada por meio de laudos técnicos dos ensaios dos materiais utilizados para proteção radiológica em alguns poucos institutos especializados no Brasil, que comprovam a eficácia do produto.

Como tem evoluído a qualidade dos paramentos usados nesse setor?

Ao longo de algumas décadas, em parceria com fabricantes no Brasil, conseguimos desenvolver paramentos bastante eficientes, mais leves e mais confortáveis. Tem sido uma troca de conhecimento muito saudável e respeitosa, tratando-se muitas vezes de segredo industrial. Os paramentos no Brasil, a rigor, se utilizam de manta plumbífera importada ou nacional, todas bastante eficientes. Em pesquisas recentes, desenvolvemos paramentos que aceitam melhor processos de higienização e esterilização, promovendo assim o adicional de proteção biológica. Atualmente, trabalhamos com novos materiais com equivalência ao chumbo e que podem ser agregados à borracha de forma a se obter excelência na proteção radiológica, materiais como o Bismuto (Bi) e o Tungstênio (W).

Que outros fatores devem ser observados em relação a esses paramentos?

Um fator importante na proteção radiológica é a espessura. Uma cultura bastante forte no país é o uso de aventais com 0,50 mm de chumbo. Tal espessura, segundo a legislação de proteção radiológica, deve ser aplicada para proteção de áreas expostas à radiação primária. Contudo, nossas rotinas de exames radiológicas envolvem em praticamente toda sua totalidade a exposição a feixes secundários, para os quais um avental com 0,25 mm de chumbo é mais que suficiente. Outro fator importante diz respeito ao conforto do usuário. Poucos são os envolvidos nas compras de itens de segurança que detêm o conhecimento de que existem paramentos com tamanhos diferenciados (P, M, G e GG) e, também, paramentos para crianças. Alguns fabricantes ainda apresentam paramentos diferenciados para homens e mulheres, outro conforto importante para o trabalhador. Recentemente, me deparei com outro fator importante e relacionado ao colar de chumbo para proteção da tireóide, alguns muito desconfortáveis e com erros na produção que, inclusive, provocam ferimentos importantes nos usuários.

Na sua opinião, as clínicas e hospitais brasileiros têm dado importância suficiente para o uso de EPI? Até que ponto as normas são cumpridas, de modo geral? E a fiscalização, tem sido efetiva?

A proteção radiológica é muito dependente do usuário. Alguns profissionais nos departamentos de radiologia ainda insistem em não utilizar os paramentos de chumbo e dosímetros pessoais, o que é uma insanidade, mas também uma realidade. Lamento muito ainda encontrar profissionais que não se envolvem os conceitos de proteção radiológica na sua rotina diária. Muitos profissionais não se protegem adequadamente e muitas vezes não protegem pacientes e seus acompanhantes. Atitudes inconcebíveis para profissionais da área e conhecedores dos riscos envolvidos no uso incorreto e indiscriminado das radiações ionizantes. Devemos nos lembrar que todo paramento, para ser uma EPI radiológica, passa por uma série de testes de eficiência; são regulamentados e obrigatoriamente registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e possuem certificação do Ministério do Trabalho. Ainda vejo fabricantes comercializando paramentos não autorizados ou registrados e, infelizmente, ainda há no mercado compradores para produtos com produção e eficiência duvidosas.

A proteção radiológica é muito dependente do usuário. Alguns profissionais ainda insistem em não utilizar os paramentos de chumbo e dosímetros pessoais, o que é uma insanidade, mas também uma realidade.

 

Como os hospitais reagem diante desse problema?

Atualmente, muitos hospitais possuem, em seu corpo de colaboradores, físicos e engenheiros de segurança do trabalho que estão atentos a essa prática ilegal de comercialização de EPI, que eu, pessoalmente, considero clandestinos. Outro fator importante diz respeito diretamente à rotina de física médica. Todos os paramentos devem ser testados anualmente e, uma vez considerados inadequados, devem ser imediatamente retirados de uso. Os aventais de chumbo são compostos por um metal pesado poluente, o chumbo (Pb), na forma de óxido, e em sua degradação ele é bastante danoso à saúde e ao meio ambiente. Por isso, não deve ser descartado sumariamente, é um resíduo hospitalar que deve ter destino adequado. Recomendo que seja obrigatoriamente devolvido para o fabricante ou fornecedor para destino adequado e certificado.

Há fiscalização sobre esses processos? Como os órgãos e entidades especializadas estão atuando para melhorar essa situação?

Contamos, sim, com fiscalização, mas com certeza ainda é muito falha em diversas áreas. Técnicos em vigilância sanitária e segurança nuclear, nas diversas esferas públicas de fiscalização e controle, estão mais presentes, melhor preparados e mais preocupados com o cumprimento integral das normas de proteção radiológica e controle de qualidade nos diversos centros hospitalares e industriais que se utilizam de fontes e equipamentos emissores de radiação ionizante. Somada a esta fiscalização, o Conselho de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia (CONTER) e os sindicatos de classe têm exercido um papel de suma importância nessa fiscalização, uma ação responsável e sobre a qual cabe destacar a ação direta dos Supervisores de Aplicações Técnicas (SATR). Particularmente, a Associação Brasileira de Física Médica (ABFM) tem exercido um papel de grande importância nos aspectos relacionados à formação e serviços prestados por físicos médicos nas diversas áreas de aplicação de radiação ionizante no Brasil. Um passo importante para o sucesso das ações do físico na área hospitalar é a regularização da profissão, que hoje tramita no Congresso Nacional, praticamente em sua fase de final de regulamentação, um esforço muito importante de congressistas cientes da importância da aplicação responsável e correta da física e da física médica nos diversos ramos e atividades econômicas do Brasil.

Um passo importante para o sucesso das ações do físico na área hospitalar é a regularização da profissão, que hoje tramita no Congresso Nacional, praticamente em sua fase de final de regulamentação.

 

Qual a importância do serviço de dosimetria radiológica prestado pela Sapra Landauer à Santa Casa de São Paulo?

Falar da Sapra Landauer é um prazer imenso: uma empresa com quase quarenta anos, pioneira em muitas pesquisas nas áreas de dosimetria interna e externa. A ISCMSP (Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo) é um de seus primeiros clientes, e ambas mutuamente apostaram no conceito de qualidade e eficiência. A empresa participou de grande parte da história da proteção radiológica da ISCMSP. É uma empresa parceira e atenta a todas as necessidades de atenção à saúde e segurança de nossos colaboradores e pacientes. Muito foi produzido em conjunto, ambientes foram melhorados e adequados às novas exigências legais na área de proteção radiológica e física médica. Pessoalmente, acompanho e conto com a presença da Sapra Landauer desde o início de minha formação, em 1986, e em verdadeira comunhão realizamos muito para ISCMSP e para mais outros cerca de 800 centros de radiologia onde atuo como consultor. A Sapra é hoje o maior centro de dosimetria radiológica de nosso país e, sempre incansável e inovadora, recentemente habilita e disponibiliza o que há de mais atual na área, a dosimetria opticamente estimulada (OSL), o que certamente eleva o Brasil a uma condição de excelência em dosimetria ocupacional.

Sempre inovadora, a Sapra recentemente habilitou e disponibiliza o que há de mais atual na área, a dosimetria opticamente estimulada (OSL), o que eleva o Brasil a uma condição de excelência em dosimetria ocupacional.

 

Enquanto cliente da Sapra Landauer, como o senhor avalia os serviços prestados e o processo de atendimento oferecido pela empresa? 

A Sapra é uma empresa que cresceu sem perder o foco no cliente, muito atenta às necessidades dos clientes, soube como nenhuma outra aplicar o conceito de qualidade no atendimento e dos serviços. Dotada de profissionais dedicados e prestativos, material gráfico impecável e zelo em todas as suas ações. Uma empresa inovadora e preocupada com as gerações futuras de profissionais e pesquisadores, sempre presente e disponível para auxiliar o cliente e os centros de formação profissional e de pesquisa. Um modelo para muitas empresas e empreendedores interessados na área de dosimetria, metrologia das radiações, proteção radiológica e física médica.

A Sapra é uma empresa que cresceu sem perder o foco no cliente, muito atenta às necessidades dos clientes, e soube como nenhuma outra aplicar o conceito de qualidade no atendimento e nos serviços.

 

Como o senhor avalia o sistema Gerenciador de Proteção Radiológica (GPR) online da Sapra? Como e até que ponto esse sistema facilita o atendimento?

De início, o sistema GPR foi de uso muito tímido, devo confessar. Todo o tratamento relacionado à coleta e tratamento dos dados era, inicialmente, totalmente realizado internamente na ISCMSP e nas minhas empresas. O tempo amadureceu este uso e, atualmente, todo o tratamento se dá praticamente, e com muita agilidade, por meio das facilidades de interação com dados de profissionais e dosimetria pessoal inseridos no GPR. Ainda estamos agregando mais funcionalidades ao GPR e não há dúvida que hoje ele é um aliado do físico na gestão da proteção radiológica e controle ocupacional de rotinas e dosimetria do trabalhador.