Mulheres na física: contribuições que fizeram e fazem a diferença

Unindo o fazer científico à inteligência e à sensibilidade próprias do gênero feminino, essas cientistas e pesquisadoras vêm deixando um legado que inspirou gerações e moldou e impulsionou o campo da física.

Dos pioneiros experimentos de Marie Curie com a descoberta da radioatividade e suas aplicações, na virada do século XX, até as atuais inovações em física de materiais e astrofísica, as mulheres têm deixado sua marca nas mais diversas áreas da física.

Para documentar essa história, a Sociedade Brasileira de Física (SBF), por meio da Comissão de Relações de Gênero (CRG), lançou em 2015 o livro “Mulheres na Física”. Uma das principais tarefas da CRG-SBF é promover o debate contínuo sobre o fazer ciência e o gênero, não somente junto à comunidade da física e áreas afins, mas também com as gerações de jovens ainda no ensino médio.

Segundo a SBF, “as pesquisadoras selecionadas se caracterizam não somente por contribuir de forma fundamental para o desenvolvimento da física, mas igualmente por incorporarem ao debate científico uma esfera humanística.”

Neste texto, apresentamos algumas dessas profissionais da física que exerceram especial influência ao longo da história, destacando alguns pontos mais marcantes sobre sua trajetória, trabalhos e descobertas. De Lise Meitner a Marcia Barbosa, de Chien-Shiung Wu a Yvonne Mascarenhas, cada uma dessas mulheres deixou um legado que inspira as novas gerações e serve de exemplo para as futuras cientistas.

Estrangeiras

(Imagem: Wikimedia Commons)

Marie Curie (1867-1934) – Uma das mais famosas cientistas de todos os tempos, Curie foi pioneira no estudo da radioatividade, descobrindo os elementos polônio e rádio. Ela foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a única a ganhar em duas áreas diferentes: Física e Química.

 

 

 

(Imagem: Smithsonian Institution Archives)

Lise Meitner (1878-1968) – Meitner foi uma das maiores cientistas da história. Ela trabalhou em física nuclear e foi fundamental na descoberta da fissão nuclear, uma descoberta que eventualmente levou ao desenvolvimento da bomba atômica. Nascida em uma família judaica, após concluir seus estudos migrou para Berlim, em 1907, onde conheceu seu colega cientista Otto Hahn (1879-1968). Otto Hahn publicou o artigo de Meitner, mas sem mencioná-la como co-autora da descoberta.

 

(Imagem: Smithsonian Institution)

Chien-Shiung Wu (1912-1997) – Considerada a “Marie Curie chinesa”, Wu foi uma física experimental sino-americana conhecida como “A Primeira Dama da Física”. Ela é famosa por seu trabalho no experimento de Wu, que refutou a lei de conservação da paridade na física de partículas. Wu nasceu em Xangai, numa época em que não se permitia a todas as meninas estudar. Ela frequentou a escola para meninas que seus pais conseguiram fundar.

 

 

(Imagem: Corbin O’Grady Studio/Science Source)

Dorothy Crowfoot Hodgkin (1910-1994) – Hodgkin foi uma cristalógrafa britânica que desenvolveu técnicas pioneiras de cristalografia de raios-X. Ela foi premiada com o Prêmio Nobel de Química em 1964 por suas contribuições para a determinação das estruturas de importantes biomoléculas.

 

 

 

(Imagem: Dominick Reuter)

Mildred Dresselhaus (1930-2017) – Conhecida como a “Rainha do Carbono”, Mildred nasceu em uma família de judeus pobres, muito afetada pela crise de 1929. Estudou com bolsa de estudos e foi incentivada por uma de suas professoras, Rosalyn Yalow, vencedora do Prêmio Nobel de medicina, a estudar Física. Ela foi uma das primeiras a prever a existência dos nanotubos de carbono, um material extremamente leve, ótimo condutor elétrico e térmico, podendo ser superior ao cobre, além de ser um dos materiais mais resistentes que conhecemos, cerca de 100 vezes mais resistente que o aço. Tornou-se uma referência no estudo de nanoestruturas, encontrando tempo para atuar na questão de gênero e conciliar o laboratório, a família numerosa e uma forte atenção à política científica. Em seu amplo laboratório, transitam diferentes nacionalidades, inclusive diversos brasileiros.

Brasileiras

(Imagem: Arquivo pessoal/CBPF)

Elisa Frota Pessoa (1921-2018) – Uma das pioneiras na ciência no país, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Contrariando o pai, que via o casamento como único futuro possível para as meninas daquele tempo, ela foi a segunda mulher a se formar em física no Brasil, em 1942 (a primeira, Sonja Ashauer, graduou-se pela USP no mesmo ano). Elisa cursou a Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro) e se destacou pelos estudos de radioatividade ligados à emulsões nucleares.

 

(Imagem: Wikimedia Commons)

Sonja Ashauer (1923-1948) – Reconhecida como excelente estudante, Sonja foi a primeira mulher brasileira a concluir o doutorado em física, pela Universidade de Cambridge (Inglaterra). Pesquisou vários problemas relacionados à mecânica quântica e teve uma morte precoce, aos 25 anos.

 

 

 

(Imagem: Léo Ramos Chaves | Revista Pesquisa FAPESP)

Yvonne Mascarenhas – (1931) – Pesquisadora de destaque na física brasileira. Tem inúmeras contribuições para a física de materiais, em particular para o estudo de materiais magnéticos e cristalografia de raios-X. Mascarenhas foi a primeira mulher a ser presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e também foi a primeira mulher a receber a Medalha de Ouro da Sociedade Brasileira de Física, em reconhecimento por suas contribuições à física experimental no Brasil. Seu trabalho ajudou a impulsionar a pesquisa em física de materiais no país e inspirou muitos jovens cientistas brasileiros. Neste ano, recebeu o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A física foi escolhida por suas atividades de pesquisa pioneiras em cristalografia de raios X e por iniciar uma sólida comunidade científica nesta área no Brasil.

(Imagem: Arquivo/IEA USP)

Amélia Império Hamburger – (1932-2011) A pesquisadora formou-se em 1954 na USP e trabalhou com os físicos Philip Smith e Oscar Sala no acelerador de partículas Van der Graaf. Dois anos depois partiu para o mestrado em Pittsburgh. Em 1958 publicou como coautora um artigo no primeiro número da recém-criada revista Physical Review Letters sobre reações nucleares no C14 e C13. Um segundo trabalho, mais completo, foi publicado na Physical Review em 1960, ano em que voltou ao Brasil.

 

 

Quer conhecer mais essas mulheres e outras que se destacaram na física? Acesse o livro “Mulheres na Física – Casos históricos, panorama e perspectivas”, editado pela SBF.