Proteção radiológica deve preservar os trabalhadores e garantir a menor dose nos pacientes, diz ex-presidente da ABFM

Por ser um tema de extrema importância e também de tantas normas regulatórias, a proteção radiológica ainda gera várias discussões. Muitas delas tornam-se objeto de estudos e pesquisas científicas. Ainda bem. Foi assim que a proteção radiológica evoluiu. 

Quando a radiologia surgiu, no fim do século XIX, a atividade era realizada sem qualquer tipo de proteção. Segundo o físico médico Renato Dimenstein, que ocupou a presidência da ABFM (Associação Brasileira de Física Médica) na gestão 2020/2021, a questão das normas de segurança dos trabalhadores melhorou muito no Brasil nos últimos 30 anos, porém, é preciso ampliar as discussões sobre o assunto.

“Atualmente, a proteção radiológica faz parte da cultura das instituições de saúde, o que é um ganho. Mas, por outro lado, ainda é preciso melhorar a questão do uso da radiação nos pacientes. É possível reduzir a dose mantendo a qualidade diagnóstica? Qual o caminho para essa redução? Essas e outras questões devem ser respondidas. A proteção radiológica deve preservar os trabalhadores e garantir a menor dose nos pacientes”, ressalta. 

Programas de educação continuada são fundamentais na área de radiologia e medicina nuclear. Além de outras práticas que devem ser adotadas, como o uso de arcos cirúrgicos para segurança dos trabalhadores e dos pacientes. Para Dimenstein, é fundamental que o foco esteja nos dois lados da moeda. 

“Os dosímetros OSL garantem a segurança do trabalhador, mas existe outro aspecto importante que é a segurança do paciente, então, a dose e a qualidade da imagem impactam diretamente nesse processo. E se as doses de radiação utilizadas não forem monitoradas corretamente, o trabalhador também acaba recebendo além do necessário”, observa. 

Educação continuada na área físico médica

Parceira em diversas pesquisas científicas, a Sapra Landauer também promove treinamentos e educação continuada com foco na informação e na atualização em relação às normas, conceitos e tecnologias de proteção radiológica. 

“O laboratório de dosimetria da Sapra, ao longo dos anos, vem ajudando bastante a comunidade de radiologia, os físicos, os médicos, no que diz respeito à segurança do trabalho, auxiliando no cumprimento dos requisitos para minimizar os riscos e efeitos deletérios à saúde dos trabalhadores. Isso é fundamental”, destaca Dimenstein.

A importância da atualização constante na área de proteção radiológica ficou evidente em suas ações à frente da ABFM, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas. Renato Dimenstein assumiu a presidência da Associação no início de 2020, dois meses antes de aparecer o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. E com o isolamento social imposto no país, o registro da apuração da eleição no Cartório de Notas precisou ser adiado, o que significou contas bancárias da Associação bloqueadas. 

A Diretoria ficou sem acesso às finanças da ABFM até agosto de 2020. Ainda assim, conseguiram promover diversos cursos online de ultrassom e ressonância. “Como muitas pessoas, conseguimos fazer um rearranjo, e os cursos promovidos logo no início da pandemia tiveram um interesse enorme de público. Mais tarde, começamos a fazer seminários para as universidades, com relação às normas sanitárias de proteção radiológica, promovendo atualização profissional em diversas cidades. Foi muito bom”, avalia. 

Melhorias necessárias 

Para o ex-presidente da ABFM, a dosimetria é um grande avanço na área de proteção radiológica, mas ainda faltam parâmetros de referência nacional. “Até existem algumas universidades trabalhando para estabelecer esses parâmetros, mas eles são solitários, no sentido de que cada um está fazendo de uma forma. O que precisamos é batalhar por uma política de saúde pública que possa ter a contribuição da universidade, dos laboratórios e de grandes empresas como a Sapra, atuando com esse mesmo foco no país inteiro”, afirma. 

O maior desafio, segundo Dimenstein, é que a comunidade de proteção radiológica compreenda a importância de trabalhar em grupo. “Na física médica estamos muito acostumados a fazer tudo sozinho, mas a área da saúde exige multiprofissionais e empresas qualificadas que possam ser parceiras nesses trabalhos”, finaliza.