Painel técnico em congresso internacional destaca avanços e desafios da proteção radiológica na América Latina

Apesar de avanços em marcos regulatórios e tecnologias de monitoramento em alguns países, como o Brasil, a dosimetria ocupacional na América Latina e no Caribe ainda carece de uniformidade, capacidade técnica e, sobretudo, cultura consolidada de proteção radiológica. Esse foi o diagnóstico apresentado pela física e presidente da Sapra Landauer, Yvone Maria Mascarenhas, durante o “21st International Conference on Solid State Dosimetry”, realizado de 8 a 13 de junho, na Cidade do México.

A conferência reuniu especialistas de diversos continentes para debater os avanços e perspectivas da dosimetria em estado sólido. A Dra. Yvone ministrou a palestra “Status of Personal Dosimetry in Latin America and the Caribbean”, e compartilhou os resultados do exercício de intercomparação promovido em 2022 pela Rede de Proteção Radiológica da América Latina e do Caribe (Reprolam), que avaliou 26 serviços de dosimetria pessoal de corpo inteiro (Hp(10)), sendo 10 privados e 16 públicos. 

A intercomparação foi conduzida no âmbito da Reprolam sob a liderança da pesquisadora Dra. Helen Jamil Khoury Asfora (in memoriam), do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora do Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes (LMRI). Reconhecida por sua atuação na proteção radiológica ocupacional, Helen esteve à frente da Rede de Proteção Radiológica da América Latina e do Caribe, promovendo o intercâmbio técnico-científico e a formação de profissionais em toda a região.

Resultados preocupantes

O levantamento revelou que oito desses serviços apresentaram resultados fora dos limites de aceitação, o que representa 30,7% do total. O dado acende um sinal de alerta para a necessidade de fortalecer a regulamentação, ampliar a capacitação técnica e promover uma cultura consistente de proteção radiológica nos países latino-americanos. “Embora tenhamos marcos internacionais orientando boas práticas, muitos países ainda não possuem serviços certificados nem laboratórios de calibração com qualidade assegurada. A consequência direta é a fragilidade na proteção de trabalhadores expostos à radiação”, pontuou Dra. Yvone.

O Brasil se destaca positivamente nesse cenário com um histórico de evolução institucional iniciado em 1995, com a criação de um processo de certificação dos serviços de dosimetria individual externa sob coordenação do CASEC/CNEN. Hoje, o país conta com tecnologias como TL e OSL amplamente implantadas, laboratórios certificados e um banco nacional com cerca de 270 mil trabalhadores ocupacionalmente expostos monitorados.

“Temos uma base sólida. A legislação é robusta, a tecnologia está disponível e a capacidade de oferta é nacional. Mas ainda esbarramos na falta de cultura. Muitos profissionais demonstram maior receio da fiscalização do que dos efeitos reais da radiação, o que mostra que precisamos fortalecer o entendimento sobre a proteção radiológica”, afirmou a física.

Cultura de proteção radiológica

A cultura, segundo a Dra. Yvone, é o terceiro e mais desafiador pilar da proteção radiológica, junto à legislação e à tecnologia. Trata-se de um processo contínuo, que demanda educação constante, treinamento frequente e uma mudança profunda de mentalidade entre trabalhadores, gestores e sociedade. “Não se constrói cultura apenas com normas. É preciso treinar, repetir, educar. A proteção radiológica deve ser encarada como parte da responsabilidade profissional, e não como mera exigência legal”, completou.

A cultura, segundo a Dra. Yvone, é o terceiro e mais desafiador pilar da proteção radiológica, junto à legislação e à tecnologia. Trata-se de um processo contínuo, que demanda educação constante, treinamento frequente e uma mudança profunda de mentalidade entre trabalhadores, gestores e sociedade.

Para avançar nessa missão, a Sapra Landauer investe em ações de formação e conscientização, como webinários, produção de materiais técnicos e suporte contínuo a clientes. A presença no SSD2025 reforça o papel da empresa como articuladora de boas práticas em nível nacional e regional, ao mesmo tempo em que amplia o diálogo com instituições internacionais em busca de maior qualidade, segurança e padronização na dosimetria ocupacional.

Sobre a conferência

Realizado a cada três anos desde 1965, o International Conference on Solid State Dosimetry é o principal evento mundial dedicado aos avanços na dosimetria de estado sólido. Em sua 21ª edição, sediada pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), na Cidade do México, o congresso reuniu pesquisadores, estudantes e profissionais de todo o mundo. A programação científica abordou desde novos materiais e tecnologias de detecção até aplicações avançadas em ambientes clínicos, espaciais e de segurança, com destaque para temas como microdosimetria, dosimetria de partículas iônicas, inteligência artificial aplicada e monitoramento pessoal e ambiental.