Monitoramento em linha de luz no Sirius viabiliza avaliação de processo inflamatório em animais


Uma pesquisa realizada no Sirius, em Campinas (SP), promoveu o monitoramento das doses de radiação emitidas em uma das linhas de luz, mostrando que, com alguns cuidados, seria possível a realização de imagens em animais sem causar danos de curto prazo à saúde deles. Coordenada pelo líder do Grupo de Proteção Radiológica do Sirius, Fernando Antonio Bacchim Neto, a pesquisa teve o apoio da Sapra Landauer, que disponibilizou os dosímetros InLight, capazes de medir radiação X, gama e beta utilizando a tecnologia OSL.

A linha de luz onde o experimento ocorreu é uma das diversas estações experimentais do Sirius, uma fonte de luz síncrotron de quarta geração, considerada uma das mais avançadas do mundo. Inaugurado em 2018 e batizado com o nome da estrela mais brilhante do céu noturno, o acelerador de partículas de 68 mil metros quadrados é a maior e mais complexa infraestrutura de pesquisa já construída no Brasil.

Operado pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), vinculado ao CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Sirius conta com feixes de raios X de alto brilho que permitem análises com resolução nanométrica, possibilitando avanços em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, como agricultura, energia e saúde, que foi a área de atuação da pesquisa em parceria com a Sapra.

As linhas de luz permitem observar aspectos microscópicos de diferentes materiais, como os átomos e moléculas que os constituem, seus estados químicos e sua organização espacial, além de acompanhar a evolução no tempo de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em frações de segundo.

Novas possibilidades

Quando os pesquisadores do Sirius vislumbraram a possibilidade de analisar o processo e estruturas em um animal ou até de promover um tratamento através daquela linha de luz, se depararam com uma questão que precisava ser resolvida: “Tínhamos uma linha de luz extremamente eficaz, competitiva internacionalmente, mas não conhecíamos exatamente as doses que emitia, para conseguir concluir que seria possível colocar um animal ali sem causar nenhum processo ou alteração artificial. Então decidimos ‘dar um tiro de canhão’ nesse problema, fazendo uma abordagem bastante robusta, já no primeiro momento, com foco nos animais. E essa validação só foi possível com o uso dos dosímetros OSL da Sapra”, explicou Bacchim.

As doses de radiação sempre foram um impeditivo para esse tipo de iniciativa, pois eram muito altas. Com isso, obrigatoriamente, depois da imagem o animal tinha que ser sacrificado. O nível de controle que o Sirius garante na qualidade do feixe, contudo, pode ser comparado à tomografia. E foi exatamente o que fez acender uma luz na mente dos pesquisadores que começaram a estudar a possibilidade de colocar um animal ali de modo que ele saísse vivo, sem nenhum dano causado pelo procedimento.

A iniciativa já foi realizada em outros síncrotrons, mas é algo inédito no Brasil. “Os dosímetros foram ferramentas fundamentais para validar as nossas simulações computacionais. Foi um trabalho bem objetivo, que exigiu bastante atenção e muitas discussões”, comentou o físico médico.

Desafios e superações durante a pesquisa

O feixe naquela linha de luz era muito amplo em energia, um cenário que não é ideal para dosimetria, por ser considerado muito “poluído”, o que fez com que o experimento precisasse ser lapidado. “Discutimos muito o experimento em si, colocamos filtros na frente dos feixes para tentar tirar, ao menos, as energias mais baixas, e foi muito bom poder contar com a parceria ativa da Sapra também nessas discussões, avaliações e decisões”, afirmou Bacchim.

Para a diretora-presidente da Sapra Landauer, Drª Yvone Mascarenhas, que assina o artigo científico junto com os pesquisadores, o projeto foi de fundamental importância. “Somos movidos por desafios, conhecimento e parcerias, então, gostamos de explorar ideias, incorporando as mais avançadas tecnologias e identificando oportunidades diferenciadas para fornecer as soluções mais adequadas para os nossos parceiros. E esse foi um passo importante em direção à saúde, com foco no desenvolvimento da nossa sociedade”, destacou.

E como preconizou a física médica estadunidense Rosalyn Yalow, Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1977, “novas verdades se tornam evidentes quando novas ferramentas se tornam disponíveis”. A pesquisa científica realizada no Sirius apresentou resultados que possibilitaram insights para decisões futuras na linha de luz. “Pretendemos fazer mais medidas na linha e continuar essa abordagem robusta em parceria com a Sapra”, finalizou Bacchim.

Sirus recebe propostas de novas pesquisas

O Sirius está com uma chamada regular de propostas de pesquisas para as suas seis primeiras estações experimentais. As inscrições podem ser feitas até 15 de dezembro, aqui. Poderão submeter sua proposta pesquisadores interessados em realizar experimentos no Sirius