É urgente a ampliação da cultura de radioproteção para os novos profissionais que atuam em processos intervencionistas.

A física e diretora-presidente da Sapra Landauer, Yvone Maria Mascarenhas, realizou um estudo com base nos dados de dosímetros analisados pelos profissionais da Sapra Landauer ao longo de 5 anos, de 2013 a 2017, e constatou aumento significativo no nível de doses de radiação espalhada a que são submetidos profissionais da área intervencionista. “Enquanto há 10, 15 anos só se pensava em cardiologia quando se falava em radiologia intervencionista, hoje essa área envolve muitas outras especialidades como, por exemplo, neurologia, gastroenterologia, urologia, entre outros. São realizados procedimentos de intervencionismo que, em geral, têm longa duração, criticalidade dos procedimentos e alto nível de taxa de radiação espalhada”, avaliou ela, apontando como principal desafio entender a prática e melhorar a cultura de proteção radiológica das instituições que disponibilizam esses serviços de saúde.

Essa exposição cumulativa à radiação pode ter efeitos biológicos graves e, muitas vezes devastadores. Estudos² apontam para possível relação entre os médicos intervencionistas e o surgimento de tumores cerebrais, devido às altas taxas de dose. Esses profissionais, que trabalham muito próximos do paciente, sofrem exposição considerável à radiação.

Cardiologistas intervencionistas são os que rece-

bem as maiores quantidades de radiação entre os profissionais da saúde.

Estes especialistas têm de 38 a 52% mais chances de desenvolverem catarata. Esse risco deve ser mitigado, já que, cada vez mais, os procedimentos médicos utilizam a radiação ionizante.

Doses medidas em tempo real

O nível de exposição à radiação pode ser reduzida com mudanças de comportamento no ambiente de trabalho e conscientização da importância de dispositivos de proteção. Mudanças estas que, a longo prazo, trarão benefícios inestimáveis para a saúde das equipes médicas e dos pacientes.

Especialistas defendem a importância de se avaliar o conhecimento que os profissionais de saúde têm sobre proteção radiológica e implementar ações educativas para promover um ambiente de trabalho seguro aos profissionais, pacientes e acompanhantes.
A adoção de dosimetria em tempo real, utilizada em conjunto com outras ferramentas e técnicas atualmente disponíveis, pode ser um eficiente mecanismo de construção de um ambiente de trabalho mais seguro. Com essa tecnologia de ponta, os responsáveis técnicos são capazes de aprimorar a cultura de proteção radiológica em hospitais e clínicas. Esse sistema avalia a exposição a raios X em tempo real, de forma gráfica e com feedback quase instantâneo, permitindo que a equipe médica modifique seu comportamento durante os procedimentos, evitando exposições desnecessárias e minimizando suas doses.

1 E. Vano, et al. Radiation-associated lens opacities in catheterization personnel: results of a survey and direct assessments. 24 Journal of Vascular Interventional Radiology 2: 197-204 (2013).
2 National Council on Radiation Protection & Measurements. Ionizing Radiation Exposure of the Population of the United States. Bethesda, MD National Council on Radiation Protection and Measurements, (2009) 160.