Belo Horizonte sedia um dos principais eventos mundiais sobre radiação e segurança

De 22 a 26 de setembro, Belo Horizonte vai sediar a edição brasileira do International Symposium on Solid State Dosimetry (ISSSD), um dos mais importantes eventos científicos do mundo na área da radiação. A capital mineira se tornará ponto de encontro de especialistas de mais de 20 países para discutir os avanços e os desafios da dosimetria, ciência que mede a radiação e orienta aplicações essenciais em saúde, indústria e meio ambiente.

O simpósio será realizado no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN) e terá a presidência da professora Telma C. F. Fonseca, do Departamento de Engenharia Nuclear da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo a professora, sediar o ISSSD no Brasil fortalece a presença da ciência nacional no cenário internacional. “Este é um espaço fundamental para que pesquisadores possam validar novas técnicas e medidas de radiação. Precisamos desse olhar da comunidade científica internacional para, em conjunto, assegurarmos a precisão e a confiabilidade das medições, cujo impacto se reflete diretamente na proteção da saúde pública”, destacou.

Dosimetria de ponta: da nanociência à modelagem computacional

Laboratórios em todo o mundo estão desenvolvendo novos detectores de radiação para atender aos padrões de segurança e ampliar o conhecimento na área. Esses avanços vêm sendo apresentados em grandes fóruns científicos, como o International Symposium on Solid State Dosimetry (ISSSD), que se consolidou, desde sua primeira edição no México em 1988, como referência internacional para pesquisadores do campo.

A energia nuclear desempenha um papel fundamental em diversas áreas, e as pesquisas na área continuam avançando. Um dos campos inovadores é a nanodosimetria. “Estamos desenvolvendo detectores capazes de quantificar a densidade de ionização no meio biológico, algo que não pode ser medido com detectores convencionais. Estamos falando de estruturas comparáveis a um núcleo celular ou a uma molécula de DNA, em escalas nanométricas, da ordem de bilionésimos de metro”, explicou a professora, ressaltando a complexidade das pesquisas, que exigem novos materiais e metodologias.

Outro eixo é a modelagem computacional, que vem transformando a forma de analisar e prever os efeitos da radiação. “A integração entre modelos teóricos e experimentos de laboratório é essencial. A grande vantagem da modelagem é permitir separar parâmetros de estudo de maneira inviável no ambiente experimental. Uma vez validados, esses modelos possibilitam simulações que não seriam possíveis de outra forma”, detalhou a professora.

Entre as aplicações práticas, Telma Fonseca ressalta a necessidade de revisar os relatórios internacionais de referências de doses de radiação, de modo a incluir parâmetros específicos para exames pediátricos, como o PET-CT com Flúor-18. “Atualmente, os parâmetros internacionais de referência são baseados em adultos. Através da modelagem computacional, conseguimos inferir novos dados e prever riscos de forma não invasiva, o que é fundamental para a segurança dos pacientes”, conta.

Colaboração global e impacto social

O simpósio deve reunir entre 200 e 265 trabalhos científicos, dos quais os melhores serão publicados em edição especial do periódico Applied Radiation and Isotopes. Para Telma, o encontro também é uma oportunidade estratégica de aproximar diferentes setores. “Precisamos de mais investimento e de uma cultura de inovação que aproxime as empresas da pesquisa desenvolvida nas universidades. Dessa forma, é possível criar novos setores em que pesquisadores formados possam atuar de outra maneira além da carreira acadêmica. Esse feedback é vital para transformar descobertas científicas em aplicações práticas que beneficiem a sociedade”, concluiu.

Sapra Landauer apresenta desafios da dosimetria ocupacional 

A Dra. Yvone Mascarenhas, física e presidente da Sapra Landauer, será palestrante no ISSSD, com a palestra “Personal Dosimetry: The Importance of Regulation, Technology, and Culture. Evaluation of Dosimetry Services in Latin America and the Caribbean”.

A apresentação abordará os avanços e desafios da dosimetria ocupacional na América Latina, ilustrando o tema com resultados de estudos anteriores, como o exercício de intercomparação promovido em 2022 pela Rede de Proteção Radiológica da América Latina e do Caribe (Reprolam), que avaliou 26 serviços de dosimetria pessoal. 

Segundo a especialista, o Brasil apresenta legislação robusta, tecnologias consolidadas e serviços certificados, mas ainda enfrenta desafios na consolidação de uma cultura de proteção radiológica entre trabalhadores e gestores. A palestra reforça o papel da Sapra Landauer na promoção de boas práticas e na articulação de padrões de segurança e qualidade em nível regional.

 

Educação continuada e tecnologia: caminhos para práticas mais seguras

 

A Sapra Landauer e a Associação Brasileira de Radiologia Veterinária (ABRV) promoveram o webinar “Radioproteção Veterinária na Prática: o futuro chegou”, reunindo especialistas em radioproteção e medicina veterinária. O encontro apresentou pesquisas recentes e discutiu soluções para tornar as práticas em clínicas e hospitais veterinários mais seguras e alinhadas às inovações da área.

O encontro foi aberto pela Dra. Maria de Fátima Magon, responsável técnica e gerente de operações e do sistema da qualidade na Sapra Landauer. “Nosso compromisso é fomentar a disseminação do conhecimento e a promoção de uma cultura de radioproteção. Só conseguiremos enfrentar os desafios atuais e construir práticas mais seguras para o futuro se unirmos esforços entre diferentes setores e instituições”, afirmou.

O setor veterinário vive um momento de transformação digital acelerada, com tecnologias de imagem cada vez mais sofisticadas sendo incorporadas à rotina clínica. Os dados apresentados mostraram que apenas 52% dos serviços veterinários possuem memorial descritivo, enquanto 36% não contam com responsável técnico definido e quase 20% não utilizam dosímetros regularmente. 

Um dos achados mais relevantes indica que 64% dos profissionais demonstraram interesse em capacitação sobre a RDC 611/2022 da Anvisa, revelando uma demanda por maior qualificação no setor. O médico veterinário Dr. Vitor Molina, vice-presidente da Associação Brasileira de Radiologia Veterinária e autor da pesquisa, enfatizou a necessidade de educação continuada e suporte regulatório, afirmando que “a mudança começa com conhecimento e vontade de evoluir”.

O especialista também apresentou exemplos visuais de práticas inadequadas em instituições de ensino e clínicas, como profissionais segurando animais durante exames sem qualquer proteção. “Não adianta ter leis se não houver conhecimento ou vontade de cumpri-las. É urgente investir em educação continuada, fiscalização efetiva e na criação de normativas específicas para a área veterinária”, afirmou. 

O debate destacou o paralelo entre a evolução da radioproteção na medicina humana e veterinária, com especial ênfase no tratamento dos animais como pacientes que merecem diretrizes claras de justificação e otimização de exames. Dra. Simone Kodlulovich Renha, pesquisadora da CNEN e referência em física médica, ressaltou o potencial de tecnologias como tomografia, PET-CT e radioterapia em animais, mas alertou para a importância de tratá-los como pacientes, conforme orientação da iCRP 153. “Precisamos garantir que cada exame realizado em animais tenha uma justificativa clara e siga protocolos de otimização, assim como já fazemos na medicina humana.”.

Ela também celebrou a inclusão de diretrizes específicas para animais nas recomendações mais recentes do ICRP (International Commission on Radiological Protection), classificando a medida como “um marco para a proteção de todas as espécies”.

Durante a interação com participantes, surgiram questões práticas sobre fiscalização, custos de implementação e capacitação de equipes. Os palestrantes reforçaram que a educação continuada representa a base para mudanças efetivas, além da importância da colaboração entre diferentes áreas do conhecimento.

O encerramento do evento destacou o compromisso da Sapra Landauer em oferecer suporte por meio de cursos, palestras e consultorias especializadas. “A radioproteção não deve ser vista como um custo, mas como um investimento em vidas: profissionais, animais e tutores. A conscientização é o primeiro passo para construir um futuro mais seguro”, ressaltou a Dra. Maria de Fátima.

O webinar pode ser assistido aqui.